Pelo
menos 77% das empresas brasileiras relatam ter constatado a ocorrência
de algum tipo de fraude em seus quadros internos em 2015. O dado está
presente em uma pesquisa global da consultoria de risco Kroll e foi
apresentado pela diretora-geral da companhia no Brasil Snezana Gebauer em
um seminário da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro nesta
terça-feira (10/5). Na avaliação dela, os programas de combate à
corrupção no setor privado devem ser mais efetivos.
O evento, que debateu o tema “fraude, corrupção e compliance:
evitando riscos no setor privado”, trouxe um panorama da adoção, pelas
empresas que atuam no Brasil, das medidas estabelecidas pela Lei Anticorrupção, de 2013, para prevenir esse crime. Na palestra, Snezana
disse que o estudo encomendado pela Kroll ouviu mais de 700 executivos
de diversos países: 55% deles disseram ter sido vítimas de fraude;
outros 27% relataram que desistiram de investir na América Latina por
causa da corrupção.
Para a executiva, a situação do Brasil é
semelhante ao restante do mundo, mas que o país vem avançando no
tema. Ela lembrou ainda que o país ocupa atualmente a 76ª posição no
ranking que mede a percepção da corrupção em 168 países e que esse
dado reafirma a importância de uma mudança cultural.
Ações efetivas
A executiva afirmou que para construir um programa realmente efetivo de compliance
as empresas precisam entender o ambiente regulatório do setor em que
atuam e os responsáveis pela área também precisam ter autoridade para
agir dentro da companhia. “No Brasil, 91% das empresas terceirizam
serviços internamente. Isso é um risco, porque as empresas não pensam
nos terceirizados, não falam com eles da mesma forma como falam com os
seus empregados”, destacou.
O executivo Pedro Teixeira, da ThyssenKrupp CSA [Companhia Siderúrgica do Atlântico], afirmou que o mais importante é fazer com que os funcionários compreendam as diretrizes da política de compliance,
para que possam incorporá-la no dia a dia. Citando a própria empresa,
ele contou que as linhas gerais do programa vêm da matriz, na Alemanha,
mas são adaptadas segundo o contexto brasileiro. “Fazemos workshops com linguagem muito simples. O mais importante é que eles [os empregados] entendam”, destacou.
A ministra aposentada do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie,
que mediou o debate, afirmou que a sociedade brasileira sempre foi
muito condescendente com a desonestidade. Ela defendeu mudanças na
legislação eleitoral a fim de evitar a aproximação dos governos
às empresas para obter recursos para campanhas em troca de contratos com
a administração pública.
“A sociedade está muito mais consciente
dos seus direitos e exigentes com relação aos seus governantes e os
serviços que são prestados pelo estado. E a partir daí vemos como
consequências o que está ocorrendo. Temos construído ao longo do tempo
um Ministério Público muito atuante e um Judiciário que segue por esses
passos. Temos hoje consequências dos atos de incorreção que são
praticados. E isso certamente vai desestimular que voltem a ocorrer”,
disse à ConJur.