AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS C/C DANOS MORAIS COM PEDIDO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. VÍCIOS CONSTRUTIVOS NO IMÓVEL. DECISÃO QUE ACOLHEU A PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DA RÉ J.M.D.G LOTEAMENTOS LTDA. INSURGÊNCIA DA AUTORA. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO SÓCIO OSTENSIVO PERANTE TERCEIROS. SÓCIA PARTICIPANTE QUE NÃO POSSUI RESPONSABILIDADE PELO EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO. ART.991, “CAPUT”, E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL. MERA PROPRIETÁRIA DO TERRENO. DECISÃO MANTIDA. NECESSIDADE DE MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. RECURSO DESPROVIDO.
Mostrando postagens com marcador agravo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador agravo. Mostrar todas as postagens
sábado, 2 de julho de 2022
SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO SÓCIO OSTENSIVO PERANTE TERCEIROS.
Marcadores:
agravo,
conta em participação,
SOCEIDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO,
sociedade,
sociedade empresária,
sócio oculto,
sócio ostensivo,
tjpr
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Decisão Comentada - SOCIEDADE - DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA - INSURGÊNCIA DOS SÓCIOS
"Agravo regimental em agravo de instrumento. Desconsideração da personalidade jurídica. Decisão monocrática que negou provimento ao recurso. Insurgência dos sócios. 1. É deficiente a fundamentação do recurso que, acusando omissão no acórdão recorrido, não indica os pontos sobre os quais recai o suposto vício. Incidência da Súmula nº 284/STF . 2. Esta Corte Superior entende que o dispositivo legal tido como violado deve conter carga normativa suficiente a alterar o julgado hostilizado. Na hipótese vertente, os insurgentes apontam ofensa à regra jurídica incapaz de exercer modificação no provimento jurisdicional atacado, razão pela qual o apelo extremo é deficiente, nos termos da Súmula nº 284 do STF . 3. Agravo regimental desprovido." (STJ - AgRg-AI 1.345.370 - (2010/0154815-7) - 4ª T. - Rel. Min. Marco Buzzi - DJe 20.09.2013 )
Trata-se de agravo regimental interposto contra decisão que negou provimento ao agravo (art. 544 do CPC).
O apelo nobre (art. 105, III, a, da CF/1988) desafiava acórdão prolatado em agravo de instrumento emanado do TJSP. O julgado recebeu a seguinte ementa: "Execução de sentença. Agravo contra despacho que, não encontrados bens da executada e encerradas de fato as suas atividades, deferiu pedido de despersonalização da pessoa jurídica, determinou a inclusão dos sócios no polo passivo. Providência bem decretada, nas circunstâncias. Recurso improvido."
Os recorrentes apontaram violação dos arts. 28, caput, do CDC; 50 do CC; 535, II, 592, II, e 596 e 813 do CPC.
Sustentaram o seguinte: a) o acórdão recorrido não sanou omissões apontadas; b) a desconsideração da personalidade jurídica foi realizada de forma irregular e precipitada; c) o bloqueio de ativos financeiros em contas bancárias dos recorrentes não se justifica pela assertiva de encerramento irregular da sociedade empresária, que foi presumida ante a não localização dos seus representantes, pois não há referência à desvio de finalidade da pessoa jurídica, confusão patrimonial, violação de contrato, abuso de direito, excesso de poder, infração à lei ou outra circunstância; d) não foram exauridos os meios para a localização dos recorrentes, já que existia a possibilidade da citação por edital; e) sob o título de penhora on-line, realizou-se, na verdade, arresto.
Nas razões do regimental, insistiram os agravantes na tese de que o acórdão recorrido ressente-se de omissões, porquanto não apreciou questões trazidas na defesa. Argumentaram, também, que a fundamentação do recurso especial não é deficiente, pois descabido o arresto sem a sua citação por qualquer meio e essa alegação está calcada no art. 813 do CPC.
O STJ negou provimento ao agravo regimental
O Código Civil/2002, no art. 50, assim dispõe: "Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica."
O Código Civil/2002, no art. 50, assim dispõe: "Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica."
Dessa forma, é oportuno destacarmos o ensinamento da Juíza Thereza Christina Nahas: "O instituto do disregard of legal entity, ou simplesmente, para nós, desconsideração da personalidade jurídica, tem aplicação somente para aqueles entes dotados de personalidade.
Tal instituto tem por fim a permissão de se penetrar no âmago da personalidade atribuída por concessão legislativa a um ente jurídico, permitindo que se encontre seus administradores a fim de responsabilizá-los por atos praticados através do uso da pessoa jurídica.
A pessoa jurídica continua existindo. Não se trata de anulá-la ou reconhecer-lhe a ineficácia. Ao contrário, a pessoa jurídica regularmente constituída nos termos das leis respectivas inerentes a cada tipo social, associativo ou fundacional, existe no mundo jurídico de forma válida e produz todos os efeitos de sua criação.
[...]
Despersonalizar quer dizer retirar a personalidade que lhe foi atribuída, e o que ocorre nas hipóteses aqui tratadas e, dentro do caso concreto, desconsiderar aquela atribuição inicial de personalidade para, dentro de determinados limites, atingir pessoas e bens que se encobrem atrás daquela personalidade." (Desconsideração da pessoa jurídica. São Paulo: Atlas, 2004. p. 145-146)
Tal instituto tem por fim a permissão de se penetrar no âmago da personalidade atribuída por concessão legislativa a um ente jurídico, permitindo que se encontre seus administradores a fim de responsabilizá-los por atos praticados através do uso da pessoa jurídica.
A pessoa jurídica continua existindo. Não se trata de anulá-la ou reconhecer-lhe a ineficácia. Ao contrário, a pessoa jurídica regularmente constituída nos termos das leis respectivas inerentes a cada tipo social, associativo ou fundacional, existe no mundo jurídico de forma válida e produz todos os efeitos de sua criação.
[...]
Despersonalizar quer dizer retirar a personalidade que lhe foi atribuída, e o que ocorre nas hipóteses aqui tratadas e, dentro do caso concreto, desconsiderar aquela atribuição inicial de personalidade para, dentro de determinados limites, atingir pessoas e bens que se encobrem atrás daquela personalidade." (Desconsideração da pessoa jurídica. São Paulo: Atlas, 2004. p. 145-146)
Fábio Ulhoa Coelho, discorrendo sobre a desconsideração da personalidade jurídica, dispõe: "Em razão do princípio da autonomia patrimonial, as sociedades empresárias podem ser utilizadas como instrumento para a realização de fraude contra os credores ou mesmo abuso de direito. Na medida em que é a sociedade o sujeito titular dos direitos e devedor das obrigações, e não os seus sócios, muitas vezes os interesses dos credores ou terceiros são indevidamente frustrados por manipulações na constituição de pessoas jurídicas, celebração dos mais variados contratos empresariais, ou mesmo realização de operações societárias, como as de incorporação, fusão, cisão. Nesses casos, alguns envolvendo elevado grau de sofisticação jurídica, a consideração da autonomia da pessoa jurídica importa a impossibilidade de correção da fraude ou do abuso. Quer dizer, em determinadas situações, ao se prestigiar o princípio da autonomia da pessoa jurídica, o ilícito perpetrado pelo sócio permanece oculto, resguardando pela licitude da conduta da sociedade empresária. Somente ser revela a irregularidade se o juiz, nessas situações (quer dizer, especificamente no julgamento do caso), não respeitar esse princípio, desconsiderá-lo. Desse modo, como pressuposto da repressão a certos tipos de ilícitos, justifica-se episodicamente a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária." (Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2002, v. 2. p. 31)
Marcadores:
agravo,
aula,
desconsideração da personalidade jurídica,
dívida,
imposição,
recurso,
sociedade,
sócios
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Conflito de interesse de sócio autoriza afastamento da empresa
A Justiça pode conceder antecipação de tutela para afastar da direção dos negócios o sócio cuja esposa atua no mesmo mercado. É que este fato acaba caracterizando quebra da affectio societatis -- intenção de constituir sociedade. O entendimento levou a 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a manter liminar que determinou o afastamento do empresário José Luís Matté da administração das empresas Rech & AMP Matté e Armazém da Rosa Mosqueta, localizadas em Nova Petrópolis (RS).A ação de dissolução parcial das sociedades, que continua tramitando na Vara Judicial da comarca, foi ajuizada pelo sócio Juarez Ciro Rech. Ele pediu a exclusão de Matté pela ‘‘prática de conduta contrária aos interesses das sociedades’’. Os documentos anexados à inicial demonstram que a esposa do réu constituiu empresa com a mesma finalidade econômica das sociedades criadas pelas partes – cultivo e processamento de floresO juiz Franklin de Oliveira Netto, que concedeu a liminar, disse que esta situação evidencia o desinteresse e a deslealdade de Matté para a continuidade das sociedades. ‘‘Rompida a affectio societatis, inviável manter o réu na gestão das empresas, seja pela animosidade evidenciada, seja pelo desinteresse na prosperidade dos negócios até então mantidos com o sócio-autor. A manutenção desta situação poderia levar os empreendimentos à ruína’’, justificou em seu despacho, datado de 17 de dezembro de 2014.O relator do Agravo de Instrumento, desembargador Jorge Luiz Lopes do Canto, disse que a manutenção da decisão de primeiro grau não ocasiona dano irreparável ou de difícil reparação à parte recorrente – o réu Matté --, já que se trata de questão obrigacional que poderá ser solvida com a devida reparação. Este também pode utilizar os meios processuais para aferir a administração e contas da empresa.‘‘Ademais, a amplitude da postulação e a prova inserta no presente feito não permitem a revogação da tutela antecipada concedida, ao menos neste momento de cognição, sob pena de decisão temerária, necessitando a situação sub judice de dilação probatória no que diz respeito aos argumentos suscitadas pela parte recorrente’’, encerrou Canto. A decisão monocrática foi tomada na sessão do dia 23 de janeiro.Clique aqui para ler o despacho liminar.Clique aqui para ler a decisão do TJ-RS.
Marcadores:
affectio societatis,
agravo,
dissolução da sociedade,
provas,
sociedade
domingo, 18 de maio de 2014
Agravo de Instrumento n. 2011.016785-4, de Joinville
Relator: Des. João Batista Góes
Ulysséa
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE RESCISÃO CONTRATUAL. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. RECONVENÇÃO. TUTELA ANTECIPADA. DESTITUIÇÃO DO SÓCIO OSTENSIVO. INVIABILIDADE. ADMINISTRAÇÃO EXCLUSIVA. PREJUÍZO DA RELAÇÃO COM TERCEIROS. AUSÊNCIA DA VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
A atividade constitutiva do objeto social, na sociedade em conta de participação, é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes.Ao sócio ostensivo incumbe gerir com cuidado e diligência os negócios da sociedade em conta de participação, podendo o sócio participante fiscalizar a gestão.O disposto para a sociedade simples é aplicável à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à prestação de contas, na forma da lei processual.Em caso de inobservância pelo sócio ostensivo dos deveres de zelo e probidade na gestão do negócio, incumbe ao sócio participante a dissolução da sociedade, observado o disposto no art. 996 do Código Civil.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo
de Instrumento
n. 2011.016785-4, da comarca de Joinville (2ª
Vara Cível),
em que é agravante Renato
Luiz de Carvalho,
e agravado GBW
Incorporações Imobiliárias LTDA:
A Segunda
Câmara de Direito Comercial decidiu, por votação unânime, conhecer do
recurso e negar-lhe provimento. Custas legais.
O julgamento, realizado no dia 11 de outubro de
2011, foi presidido pela Exma. Sra. Desa. Rejane Andersen, com voto, e dele
participou o Exmo. Sr. Des. Robson Luz Varella.
Florianópolis, 19 de outubro de 2011.
João Batista Góes
Ulysséa
Relator
RELATÓRIO
Renato Luiz de Carvalho interpôs agravo de instrumento contra a
decisão proferida na Reconvenção à Ação Declaratória de Rescisão Contratual n.
038.09.047011-4/001, oposta em face de GBW Incorporação Imobiliárias Ltda., que
indeferiu o pleito de antecipação de tutela na mencionada reconvenção em
relação ao pedido de destituição dos atuais administradores da Agravada na
gestão da sociedade em conta de participação existente entre as partes.
Em suas razões de recurso, o Agravante sustenta que:
(a) as partes firmaram contrato particular de constituição de
sociedade em conta de participação, em 2-6-2008, com o objetivo da construção e
incorporação do empreendimento imobiliário denominado Victor Colatto Residence,
no Município de Balneário Piçarras;
(b) a contribuição ao empreendimento foi ajustada na proporção
de 50% dos custos para cada uma das partes;
(c) a Agravada, na qualidade de sócia ostensiva, jamais remeteu
ao Recorrente o balancete mensal, limitando-se ao envio de planilha por e-mail
com informações acerca dos valores recebidos e pagos, embora obrigada a
disponibilizar informações ao sócio participante, sempre que por este
solicitado;
(d) não foi providenciada, pela Agravada, a abertura de conta
corrente específica para o empreendimento;
(e) até maio de 2009 o Agravante já havia investido R$
1.000.000,00 (um milhão de reais), enquanto a Agravada investiu apenas R$
688.000,00 (seiscentos e oitenta e oito mil reais), não obtendo êxito na
prestação de contas, motivo pelo qual diversas vezes as partes tentaram
convocar uma assembléia após uma série de notificações e contranotificações;
(f) ajuizou a Ação de Prestação de Contas n. 038.09.041347-1,
visando o conhecimento da situação contábil do empreendimento, enquanto que a
Agravada propôs a ação de origem, requerendo a rescisão do contrato com a
devolução dos valores pagos;
(g) ao ofertar a contestação na ação de rescisão, propôs
concomitantemente reconvenção, oportunidade em que requereu a destituição dos
administradores da sociedade em conta em participação, o afastamento da
mencionada sociedade e a nomeação de um administrador até a consecução do
objetivo da sociedade, pleitos esses indeferidos;
(h) a aplicação dos artigos 1.011 e 996, do CC, uma vez que o
administrador da sociedade em conta de participação não observa o dever de
diligência, atuando com negligência e desídia, se recusando a prestar contas e
realizar a abertura de conta corrente específica para o empreendimento um ano
após a celebração do contrato entre as partes, com exigências de aportes
financeiros;
(i) o afastamento imediato do administrador é medida que se impõe,
sob pena de prejuízos ao sócio participante, com a perda do capital investido,
mesmo porque a finalidade do afastamento dos administradores da Agravada
objetiva a garantia da correta administração do objeto da sociedade em conta de
participação, coibindo futuras irregularidades na administração;
(j) não pode ficar alheio às irregularidades cometidas, como
sócio participante, sendo seu direito fiscalizar a gestão dos negócios, nos
termos do art. 993, parágrafo único, do Código Civil.
Postulou o provimento do recurso para que seja reformada a
decisão atacada e destituídos os administradores da Agravada na gestão da
sociedade em conta de participação celebrada entre as partes, a fim de
impedi-los de realizar qualquer atividade em nome da sociedade, substituindo-os
por administrador judicial até a consecução do objeto social.
A decisão monocrática de fls.37/39 indeferiu o pedido de
antecipação da tutela recursal. O Agravante, requereu a reconsideração da
decisão (fls.44/47). Entretanto, o pedido foi negado (fl.52).
Devidamente intimada, a Agravada não apresentou contrarrazões
(fl.55).
Juntados novos documentos pelo Recorrente (fls. 57/63), a
Agravada manifestou-se às fls. 68/84.
É o relatório.
VOTO
Trata-se de agravo de instrumento interposto por Renato Luiz de
Carvalho de decisão que denegou o pleito de antecipação de tutela para
destituição dos administradores da Agravada da sociedade em conta de
participação estabelecida entre as partes, com a nomeação de administrador
judicial para a consecução do objeto da citada sociedade, proferida nos autos
da ação declaratória de rescisão contratual, promovida em face de GBW
Incorporações Imobiliárias Ltda.
Registre-se, inicialmente, ser incontroversa a constituição de
uma sociedade em conta de participação, conforme se depreende do "Contrato
Particular de Constituição de Sociedade em Conta de Participação" (fls.
305/311 dos autos de origem) firmado entre as partes, e que tem objeto, nos
termos de sua cláusula 6ª, "[...] a construção e a incorporação imobiliária
do empreendimento denominado VICTOR COLATTO RESIDENCE, [...]", localizado
no Município de Balneário Piçarras.
Nesse rumo, constata-se no mencionado contrato que a Agravada
G.B.W Incorporações Imobiliárias Ltda. é a sócia ostensiva e o Agravante Renato
Luiz de Carvalho é o sócio participante.
Anote-se que a sociedade em conta de participação está prevista
no art. 991 do Código Civil, que dispõe:
Na sociedade em conta de participação a atividade
constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em
seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade,
participando os demais dos resultados correspondentes.
Assim, no presente caso, a administração da sociedade em conta
de participação é exercida pela Agravada, na qualidade de sócia ostensiva,
incumbindo ao Agravante a participação nos resultados e nos investimentos na
sociedade.
Ademais, é necessário destacar que a sociedade em conta de
participação é caracterizada por não ter personalidade jurídica, pois seu ato
constitutivo não necessita de registro na Junta Comercial, conforme leciona
Fábio Ulhoa Coelho:
Definidas as sociedades empresárias como pessoas jurídicas, seria incorreto considerar a conta participação uma espécie destas. Embora a maioria da doutrina conclua em sentido oposto (Lopes, 1990), a conta participação, a rigor, não passa de um contrato de investimento comum, que o legislador impropriamente, denominou sociedade. [...]. (Curso de direito comercial, volume 2: direito de empresa. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 510.)
Nesse tipo societário, a constituição é realizada por meio de um
sócio ostensivo, que realiza todos os negócios da empresa, em seu nome, de
forma pessoal e ilimitada, e pelo sócio participante, o investidor.
Dessa
forma, a responsabilidade pela atividade empresarial é atribuída tão-somente ao
sócio ostensivo.
Observa-se, portanto, dos documentos que instruem o presente
recurso, que o contrato particular de constituição de sociedade em conta de
participação foi devidamente firmado entre as partes, caracterizando, assim,
este tipo societário regido pelos arts. 991 a 996 do Código Civil.
Todavia, durante a execução do objeto social (construção e
incorporação do empreendimento anteriormente citado), surgiram divergências
entre as partes, cada uma imputando à outra a inexecução do contrato da
sociedade em conta de participação, o que acarretou, primeiramente, no
ajuizamento da ação de prestação de contas pelo ora Recorrente, e,
posteriormente, pela ora Recorrida foi intentada ação de rescisão contratual
c/c indenização, o que gerou a propositura de reconvenção, originando a decisão
ora impugnada.
Conforme citado, nos autos da ação de rescisão contratual
promovida pela sócia ostensiva, o ora Agravante foi devidamente citado, tendo
ofertado resposta por meio de contestação, oportunidade na qual propôs
reconvenção.
Na sua peça de reconvenção, o ora Agravante postulou a
destituição dos administradores da sociedade em conta em participação e os seus
afastamentos da mencionada sociedade, bem como a nomeação de um administrador
judicial até a consecução do objetivo da sociedade, pleitos esses indeferidos
pelo juízo a quo, por entender que "O direito do sócio
participante é tão-somente nos resultados do negócio, não podendo executá-lo
nem interferir na sua execução".
Nesse aspecto, a decisão não merece reparo.
Destaque-se, inicialmente, que incumbe ao sócio ostensivo, por
meio de seus administradores, gerir com com cuidado e diligência os negócios.
Nos termos do art. 996 do CC, aplicam-se subsidiariamente as regras da
sociedade simples, motivo pelo qual os administradores devem observar o
disposto no art. 1.011 do mesmo Diploma Legal, que determina:
O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas
funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar
na administração de seus próprios negócios.
Nesse rumo, leciona Alfredo de Assis Gonçalves Neto:
Por outro lado, o sócio ostensivo é o único que se obriga pela sociedade – isso a significar que terceiros que não mantém relações jurídicas com ela nem por meio dela com os sócios participantes; só se relacionam com o sócio ostensivo que é quem, embora em nome pessoal, age por ela. Portanto, o sócio ostensivo é o administrador da sociedade em conta de participação e é de todo conveniente que o contrato social disponha minuciosamente a respeito. Na falta de previsão contratual, aplicam-se as regras do art. 1.010 e ss., onde são definidos os deveres e os limites de atuação do administrador, bem como suas responsabilidades perante os demais sócios.
O ostensivo age com ampla autonomia nas suas relações com terceiros, mas, perante os seus sócios ocultos, tem os deveres e as responsabilidades do administrador. Por isso, enquanto no seu negócio não tem satisfações para dar a ninguém, por ser o único interessado (como se dá quando é empresário individual), no desenvolvimento das atividades que são objeto da conta de participação, o sócio ostensivo deve atuar com o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração do seu próprio negócio (art. 1.011), sob pena de responder para com os participantes pelos prejuízos que à sociedade trouxer com conduta diversa. (Direito de Empresa. 2ª ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2008. p. 155).
Portanto, o sócio ostensivo deve atuar com diligência e zelo na
condução da sociedade em conta de participação, com o objetivo de atingir o
objeto social delineado entre as partes.
De outro lado, o art. 993, parágrafo único, do CC concede ao
sócio participante o direito de fiscalizar a gestão da sociedade em conta de
participação:
Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier.
Outrossim, pertinentes os ensinamentos de Alfredo de Assis
Gonçalves Neto:
O parágrafo único do art. 993, tecnicamente, deve ser
considerado uma norma autônoma em relação ao caput, visto tratar do
direito de fiscalização e da responsabilidade do sócio participante que
ultrapassa os limites internos da relação societária.
Realmente, no primeiro enunciado desse dispositivo está
assegurado ao sócio participante o direito de fiscalizar a gestão dos negócios
sociais – vale dizer, a conduta do sócio ostensivo no cumprimento das
obrigações que pactuaram entre si. Não é indicada a forma pela qual essa
fiscalização pode ser exercida. Se o contrato em que for pactuada a sociedade
em conta de participação nada dispuser, aplicam-se as disposições relativas à
sociedade simples. (ob. cit. p. 154).
Nesse rumo, sem nenhum dúvida, o direito de fiscalização do
Agravante está devidamente assegurado, podendo ele exercê-lo de forma plena,
por meio do exame dos livros e documentos, especialmente quanto ao estado do
caixa e a carteira da sociedade, todavia, restringindo-se em relação ao objeto
social comum entre as partes.
O direito de fiscalização, no presente caso, não engloba a
destituição do sócio ostensivo. Ou seja, a Agravada como administradora da
sociedade em conta de participação, uma vez que a cláusula 9ª-B do Contrato
Particular de Constituição de Sociedade em Conta de Participação (fl. 308 dos
autos de origem) é por demais clara: "A SCP será administrada pela 'SÓCIA
OSTENSIVA', observada a legislação e as disposições do presente contrato".
A destituição da sócia ostensiva como administradora para ser
nomeada administradora judicial consistiria em subversão da cláusula contratual
em questão, o que, prima facie, não parece ser a solução mais indicada,
principalmente por influenciar na relação com terceiros.
Nesse aspecto, bem leciona o anteriormente citado Alfredo de
Assis Gonçalves Neto:
Sendo o único sócio que se relaciona com terceiros e o fazendo em nome pessoal, o sócio ostensivo não pode ser destituído de suas funções de administrador, cabendo ao contrato social dispor a respeito da extensão de seus poderes e as restrições que lhes pode fazer a maioria, sem distinção quanto a ter ocorrido a investidura no contrato ou fora dele. As disposições do art. 1.019 e parágrafo único não incidem na espécie.Se o sócio ostensivo age em desacordo com as normas que definem sua atuação no domínio da sociedade em conta de participação, também não há como excluí-lo da sociedade, eis que ele é o único incumbido de dar cumprimento ao objeto social, não sendo a ele aplicável, por isso, a norma do art. 1.030 do Código Civil, mas os sócios participantes terão as alternativas de deliberar a dissolução da sociedade, se formarem maioria (art. 1.033, III), ou judicialmente, mostrando que o descumprimento das obrigações sociais pelo sócio ostensivo importa a impossibilidade de atingir os fins sociais (art. 1.034, II). (ob cit. p. 155).
No mesmo sentido, assevera Rubens Requião que:
O Código Civil garante ao sócio oculto o direito de fiscalizar a gestão social, mas o proíbe de intervir nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este nas obrigações em que intervir. [..] (Curso de Direito Comercial – 1º Vol. 29ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2010. p. 489).
E, para arrematar, as lições de Amador Paes de Almeida:
Inexistindo sociedade comercial perante terceiros, girando os negócios exclusivamente em nome do sócio ostensivo, é evidente que só a este, e exclusivamente a este, cabe a gerência e administração dos negócios. Assim, o sócio-administrador é o próprio sócio ostensivo, que em seu nome e risco exerce o comércio. (Manual das Sociedades Comerciais. 16ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2007. p. 117/118).
Em síntese, a destituição dos administradores da Agravada
significa a da própria Recorrida da qualidade de administradora da sociedade,
desvirtuando sua condição de sócia ostensiva, além de prejudicar a relação com
terceiros.
O art. 273, inciso I, do Código de Processo Civil, impõe que,
para a concessão da tutela antecipatória, sejam observados concomitantemente os
pressupostos da verossimilhança das alegações, da prova inequívoca e o fundado
receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Entretanto, diante das
razões acima expostas, não se vislumbra respaldo à pretensão sustentada e,
assim, podendo o sócio participante penetrar por outros caminhos legalmente
previstos.
Portanto, à vista do exposto, nega-se provimento ao recurso.
É o voto.
Marcadores:
agravo,
conta em participação,
direito,
sociedade,
sócio,
sócio ostensivo,
sócio participante
Assinar:
Postagens (Atom)