De início, é como circulação de
mercadorias que aparece a relação entre força de trabalho - mercadoria vendida
pelo trabalhador - e capital - o dinheiro com que o capitalista compra essa
mercadoria, isto é, com que paga o salário. Nessa esfera de circulação, o
dinheiro do salário é equivalente ao valor da força de trabalho, como ao de
qualquer outra mercadoria. Aqui reina a equivalência das trocas, a igualdade
entre capitalistas e trabalhadores, a isonomia jurídica entre as partes que
celebram contrato, vista no capítulo anterior.
A desigualdade social entre eles
aparecerá na realidade do contrato, isto é, quando o trabalhador trabalhar para
o capitalista, Ele o fará utilizando matéria-prima e instrumentos que são de
propriedade do capitalista, de modo que também a este último caberá a
propriedade do produto. Em troca do seu trabalho, o trabalhador receberá do
excedente de valor, a mais-valia, que explica a lógica do capitalismo.
Pois o Valor que a força de
trabalho deve receber para repor seu dispêndio de energia física e mental, para
poder continuar trabalhando e criar filhos que trabalharão no futuro - esse
valor, que se realiza no salário, é totalmente distinto do valor do produto que
o trabalhador produz para o capitalista vender. A força de trabalho e o seu
produto são coisas independentes uma da outra, de modo que seu valor também o
é. Se o valor do produto for maior que o da força de trabalho, a diferença dos
dois representará um ganho para o capitalista, o "mais-valor" ou
"mais-valia". Se for menor, haverá perda, e não valerá a pena para o
capitalista contratar mão-de-obra e produzir.
Como o valor se calcula em tempo,
tomando uma jornada de trabalho é fácil verificar que num certo momento, depois
de algumas horas, os trabalhadores produziram uma quantidade de produto que, se
vendido pelo capitalista, permitiria a ele já pagar os salários. É o que Marx
chama de "trabalho pago". Só que os trabalhadores trabalham para o
capital e não para si mesmos. No contrato proposto pelo capitalista, eles devem
trabalhar por uma jornada mais longa do que aquela suficiente para criar o
equivalente aos seus salários. O valor que eles produzem nesta segunda etapa é
o que corresponde à mais-valia ou ao "trabalho não pago". Em
princípio, de qualquer maneira, trata-se de dois valores distintos.
Ou seja, a mais-valia não surge
necessariamente da sub-remuneração da força de trabalho. Nas palavras de Marx,
"a circunstância de que a manutenção diária da força de trabalho só custa
meia jornada de trabalho, apesar de a força de trabalho poder operar, trabalhar
um dia inteiro [...] é grande sorte para i comprador, mas, de modo algum, uma
injustiça com o vendedor". 1
1 Marx, K, O Capital Volume 1, Tomo
1
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